30/12/2008

Páginas Rasgadas (Título gasto...)

Em meio à lágrimas e a risos de euforia,
rasguei essas páginas de vida!
Eu rasgo as páginas e logo as colo
pedaços unidos com cicatrizes

Rasgo também o peito cheio
de coisas docemente exageradas
Dono de palavras esfareladas
Procuro me esconder.

28/12/2008

Pêlos Céus!

Muitas vezes eu me assusto quando olho para mim e vejo algo diferente. Sério. E isso acontece muito quando eu acabo de tomar banho. E aconteceu de novo.
Eu estava lá me enxugando com a minha toalha quentinha que acabara de sair do sol e então eu me deparo com um pêlo infeliz que estava muito afastado do centro do meu peito. E quando eu ví esse infeliz por lá, logo pensei:
"Ferrou-se! Ele migrou pra lá só para levar outros comparsas com ele e povoar essa outra parte do meu jovem peito com outros pelos. Céus!"
Mas depois, quando me acalmei, eu percebi que um problema muito maior estava por trás disso tudo:
"Puta que pariu! Eu estou crescendo! Tô ficando velho! Que bosta!"
E então vem aquele sentimento melancólico no peito (literalmente) e você fica pensando que vai morrer e pior: Que seu desempenho sexual vai "acalmar" quando você ficar velho. E então vem aquele desespero dos meus hormônios adolescentes, promovendo rebeliões de pensamentos em mim. Veja só o que um mísero pêlo faz com a gente.
Acho que eu ficaria deprê mesmo se um desse migrasse para as minhas costas. Acho que eu ate precisaria de terapia. Um amigo meu que faz medicina falou que é possível que eu fique careca! Olha só que droga! Ele falou algo sobre a testosterona e etc.
E então é isso. Eu fico feliz que hoje exista depilação e "terapias" que fazem até os vovos parecerem garotões.

17/12/2008

Verdadeira Intimidade

Ao menor sinal da verdadeira intimidade, seja ela de amigo ou amante, suas ilusões irão cair, uma a uma, derrubadas por este "invasor permitido". Uma vez intimo, abre-te portas pesadas, enferrujadas e esquecidas. Ao menor sinal da verdadeira intimidade, seja ela de cão ou criança, já não és mais responsável por somente por você, mas também pelos teus intimos, pessoas de sua adoração. E vice-e-versa, se é que versa-se tais coisas.
Ao menor sinal de tal intimidade, te sentiras confuso, aflito, preocupado, ansioso, e tudo mais, com problemas que nem são seus. Problemas que você nunca imaginou ter, não tem, mas que, mesmo assim, te afetam, te sobrecarregam e te deixam tão mal quanto se atingissem sua própria carne. Te cansam como se fossem alojados em suas costas. E não há só essa batalha! O problema da intimidade vai além...
Mas veja lá, em tudo na vida, existe tal dualidade! E a intimidade não é diferente, infeliz amigo. O infortúnio foram todas, ou quase todas palavras falarem da parte trabalhosa do árduo ofício do íntimo. E que seria do homem sem o trabalho? Essas dualidades da vida não são obscuras nem luminosas. São apenas... diferentes. Adiante.
Vai frustrar-te com o outro, vai querer ter o comando, quando nada pode fazer. Vai querer conduzir, confortar e batalhar, junto. Mas não pode. A intimidade nos dá a idéia de possuirmos tais poderes. Poderes divinos e vagos.
Ao menor sinal de intimidade, verdadeira intimidade, devemos amar. Amar com intimidade verdadeira, poder também divino, mas acessível a nós, se assim desejarmos. É preciso ser prudente, paciente e corajoso. Seus desejos mais profundos irão se satisfazer quando a pessoa intima em questão, a pessoa que te preocupa e que te cativa ter pernas fortes e uma mente corajosa. Aí sim terá feito sua parte. De resto, não te culpas, e abraça-o.

09/12/2008

Canela



Lá menor em leves golpes. Vem devagar e acrescendo num tom cortante. O lá menor parece triste e misterioso. Logo alterna com sua forma sustenida, n’um vai e vem inebriante, fazendo esquecer sua forma triste e incita ao mistério e voluptuosidade.
Lá menor e mi, num ritmo quebrado. O mi, que é grave e sensual, parece acalentar o lá menor, embalando ainda mais o ritmo, como um nobre cavalheiro. O casal de notas ameniza o caos no braço do violão vermelho.
A madeira rubra, antiga e gasta, treme retumbando cada nota que os dedos abocanham nas seis cordas. Deslizam nas suas dezenove casas, também gastas pelo tempo. Se tal seqüência de notas tivesse um cheiro, este seria agridoce, como os condimentos do oriente médio.
O ritmo acelera. Palmas e sapateados cruzam-se, misturando-se com o cheiro das flores de canela e essências excêntricas, que são queimadas em lâmpadas de azeite. Os vestidos vermelhos de várias camadas rodopiam, e vez ou outra são carregados de um lado para o outro pelas mãos de quem os veste. Mãos com unhas afogueadas.
Os pés continuam batendo no assoalho de madeira com firmeza, ecoando ao longo da grande sala, marcando cada contratempo com precisão. Pés e mãos em harmonia giram e contornam formas sutis no ar, enquanto o ritmo quebra e volta à tona, rasgando os ares andaluzos. Subitamente a música pára, e os vestidos derramam-se pelo chão lentamente, conforme os corpos vão se deitando em cima das próprias pernas, em movimentos ternos.

28/11/2008

Chão de Madeira


O colorido e o preto e branco, lentamente, misturavam-se. Beijou-a. Colorido, trazia uma nova perspectiva; uma nova esperança. Quente, recobria o seu pequeno corpo com os músculos palpitantes, papel que até agora fora desempenhado pelos agradáveis e coloridos cobertores, que agora se encontravam desarrumados.
A amargura, tão viva no recente telefonema mal-educado, agora parecia diluir-se. Saía de todos os seu poros, pouco a pouco, conforme se arrepiava. Aos poucos o colorido mancha o preto e branco, com leves pinceladas de pele contra pele. Os corpos pintam-se, devagar.
Um estrondo repentino. Barulho seco e curto. O cobertor continua na cama, ainda desarrumado, mas triunfante. O curto silêncio é engolido por risadas. Inocentes risadas. Eles estão no chão, caídos. A mistura de cores se completa.
Os tacos de madeira sentiram sua cera diluir-se com o suor, e resmungam, por minutos que pareciam inacabavéis. Há um suspiro. Então outro. Agora silêncio, e um cheiro que só eles sentiram. Ficaram ali, não importa por quanto tempo, pois parecia infinito.

Rua das Palmeiras, 102, São Paulo - SP, Brasil /


Olá Luísa. Tudo bem?
Espero que sim.

Não se assuste com o remetente desta carta, eu realmente estou na Itália.
Não se faça de desentendida... Não finja uma falsa surpresa, Luísa. Não estou vendo seu rosto enquanto lê. Sem máscaras; não há mais necessidade de usá-las, não há a quem enganar.
Eu descobri tudo. E já faz um tempo. Só estava esperando meu passaporte sair.
Tomei a liberdade de pegar meus discos da Billie Holiday, mas acabei esquecendo (de propósito) os discos do Bee Gees e algumas cuecas, que julguei velhas.

Creio que meu desaparecimento repentino tenha lhe causado surpresa.

Enquanto eu deslizava pelas estreitas ruas de Gênova, numa velha e agradável bicicleta alugada, pude sentir toda a liberdade que me foi privada durante esses anos; anos de seu falso ciúmes, e de minha mania de tentar ameniza-lo com meu romantismo.
Passando por Roma eu pude admirar o Coliseu, imponente, mas já gasto pelo tempo, com algumas partes despedaçadas. O seu formato redondo lembrou a nossa aliança, que está na segunda gaveta do criado-mudo. Pode ficar com ela.
Aproveitei para visitar a Fontana Di Trevi. A beleza das estátuas que adornam-na é hipnotizante! Joguei algumas moedas para fazer desejos, como é de costume nesta fonte. Uma das moedas joguei em seu nome, desejando que tenha uma vida feliz.
Escrevo esta carta em Veneza. Estou em um restaurante móvel que flutua sob o Canal Grande. Não é a toa que dizem que Veneza é romântica! Os passeios de barco incitam o verdadeiro romance e o cheiro da comida lembra paixão e calor, coisas que eu sempre procurei e continuo a procurar.

Estou pronto para começar tudo de novo.
Sem você.

Adeus, Luísa
Vítor.

26/11/2008

Peixes, Aquários, Geladeiras e Microondas


O ruído do microondas me deixou surdo. Ele se mistura com o barulho da geladeira e do aquário, que é um pequeno pedaço de mar, que engana os peixes. Eles não sabem que estão num aquário por que a memória deles só dura três segundos. Mas mesmo assim eles parecem me olhar, tristes e melancólicos. Outro dia um peixe pulou do aquário. A princípio eu achei que fosse um acidente, mas agora eu penso que o peixe tentou suicídio. É sério. Foi uma decisão tomada em segundos.
Eu estou na cozinha, com o barulho do microondas, da geladeira, e do motorzinho do aquário. A minha família toda está na sala, assistindo algo na televisão nova de proporções faraônicas. A televisão está alta, e os peixes parecem incomodados com isso. Peixes não devem gostar de televisões, por que televisões lembram aquários. Mas aquários com pessoas dentro, invés de peixes. É complicado.
Antes o aquário estava na sala, numa mesinha. Mas minha mãe tirou, acho que ela iria por algum enfeite de natal ou alguma coisa do tipo. Pena que nenhum peixe vai saber da incrível mudança, por conta de sua curta memória.
Um aquário é um pequeno pedaço de mar que engana os peixes, como eu já falei. Não é diferente das nossas casas, nem dos nossos bairros. Eu só queria ter a memória de três segundos, aí eu não cairia numa rotina. Os peixes nunca têm rotina, por que eles não têm tempo para isso. Eu também não me preocuparia, a não ser por três segundos.
Antes dos peixes quem habitava a cozinha (além da geladeira e do microondas) era o Papagaio. Eu conversava com ele, mas ele parecia não gostar de mim, não pela minha aparência, mas acho que pelas condições em que ele se encontrava. Ao contrário dos peixes ele não teve a sorte de uma memória de segundos ou de ser enganado com um pequeno pedaço de algum lugar. Teve o azar de ter uma boa memória, e azar ainda maior de conseguir repetir as merdas que as pessoas falam para ele. Eu trocava algumas palavras com ele, até que decidiram colocá-lo no quintal. Agora é raro vê-lo, por que não vou muito ao quintal.
Fico pensando, será que algum dia vão me colocar na cozinha também, no lugar dos peixes? As coisas simplesmente são assim?

18/11/2008

Morte?


-Ei você...
Já sentiu um vazio se instalar dentro do peito, sorrateiro e covarde?
Já sacrificou horas de pensamentos vazios querendo que estes desaguem n'um abraço, verdadeiro abraço, por longo tempo?

-Eu sou a morte. Também sou vazio, mas não sorrateira ou covarde. Criar o vazio foi preciso, pois a cada tarefa sou tristeza.
Eu sou o próprio sacrifício, que te aperta com um abraço, por uma eternidade, se assim quiser.

-Teus braços são frios, e tuas roupas rubras não esquentam. De ti não quero abraço. Sua pele macilenta arrepia-me! Suo frio diante do seu olhar tranqüilo... Saia daqui!
Deixa-me em paz!

Lembrete



Roger,

Passe no mercado. Estamos sem molho de tomate.
O suco de laranja está atrás da melancia (aposto que não acharia).
Tô com saudades. Que horas você chegou do escritório
ontem?

Te amo,

sua
Carolina.

16/11/2008

Acaso


-Marcar minhas formas em teu corpo, como papel e manchas de tinta, pingadas ao acaso.

14/11/2008

Sem Título e Vergonha


O metrô vem sorrateiro, com seu rugido profundo. Engole-me com suas portas automáticas, me transportando como uma sardinha infeliz. Gasto todos os meus trocados para andar por debaixo da terra e por cima de ruas. Gasto minhas horas dentro desta lata de ferro, gasto meus olhos em túneis que não têm paisagens. Túneis quase sempre escuros, que dão a sensação certa da incerteza, a eterna sensação do sentir-se perdido. Com a esperança de chegar a algum lugar, esperamos, nessa imensa e comprida sala de espera.
E tudo isso, garota, para chegar à sua casa, e te beijar, escondido, contra paredes, em cima de mesas, rolando pelo chão encerado de todos aqueles cômodos, desde que estejam vazios. Toda essa aventura angustiante desagua na segurança destes olhos serenos e amendoados. Teus olhos são duas fontes que me encharcam todo o corpo.
A poluição de todas as ruas se torna distante quando te pego pela cintura e afundo meu rosto exaurido pelo sol em seu pequeno pescoço, que é tão branco quanto marfim e cheio de pequenas pintas, bem como seu corpo inteiro.
E por falar em corpo, lembro de teu cheiro, que é presente em toda sua pequena extensão, mesmo quando não usa perfume. Esse cheiro é teu e só teu. Quando o sinto, minhas roupas pensam em suicídio, e simplesmente rasgam-se, em tremenda euforia.

08/11/2008

Perda Irreparável: A Saga de um Pequeno Suicida

Era uma tarde de sábado, com aquele sol irritante e ruas cheias. Eu estava saindo de casa, para ver minha garota.
Então peguei uma bela fila no metrô e não tão logo assim entrei em um vagão. Como me é de costume, resolvi pegar um livro (que sempre levo comigo) para ler durante a viagem. Antes que eu pudesse abri-lo, tive um mau presságio seguido de um terrível arrepio. Comecei a suar frio, mas logo passou, então ri-me do susto bobo, que logo seria atribuído a alguma causa infundada.
O trem começou a deslizar sobre os trilhos, com seu barulho profundo. Então, definitivamente decidi pegar o livro para ler. Peguei-o com as duas mão, e meu intento era abri-lo como sempre faço: Usar a palma das mãos para apoia-lo e os meus polegares oara abrir no capítulo em que parei.
Mas assim que fiz o mínimo movimento com as mãos, algo um tanto ridículo aconteceu: Meu polegar direito caiu no chão e rolou pelo vagão, devido ao movimento do trem.
Ninguém viu meu dedo opositor rolando pelo chão: As pessoas estavam ocupadas demais para socorre-lo. Quase que uma senhora pisa em cima do pobre dedo, que escapou por pouco, quando foi chutado acidentalmente por algum outro pé, de sapatados engraxados.
Eu não pude fazer nada. Não pude levantar levantar para agarrar de volta meu querido dedo, pois havia uma moça ao meu lado, impedindo minha passagem com suas pernas. Sou muito envergonhado, não conseguiria pedir licença, nem pedir a alguém para pegá-lo para mim.
Quando finalmente a moça se levantou, estive livre para passar. Ao me aproximar do dedo desertor, o impacto do trem parando o fez rolar para os pés de um pequeno garoto, que pegou-o e pôs na boca, roendo minha unha. Estava com a mãe, mas esta estava se maquiando e não viu.
O mais horripilante de tudo isso é que eu ainda sentia tudo o que se passava com o meu polegar, como se ainda estivesse em minha mão e fizesse parte de mim.
Pensei seriamente em arrancar meu tão útil dedo opositor da boca daquele garoto, mas achei melhor evitar um escândalo. Além do mais, o garoto parecia tão entretido em sua brincadeira que não me senti no direito de pará-lo.
Esperei algum tempo, com a esperança de o garoto largar meu dedo pelo chão. Isso aconteceu quase que simultaneamente com as portas do trem se abrindo. Dei-me conta que já estava na estação em que deveria descer.
Encontrei-me em uma terrível escolha: Ou pegava de volta meu dedão ou desembarcava na estação certa, para seguir meu caminho normalmente. Não pensei duas vezes: Quando o sinal de fechamento das portas soou, saí correndo e consegui passar pelas portas por um triz. Quase perco minha estação. Daria um grande trabalho desembarcar em outra e voltar a pé.
Hoje vivo sem o polegar direito. Continuei sentindo tudo o que se passava com ele por terríveis 6 meses, e isso acabou quando moscas ou peixes o comeram por inteiro. Creio que foi isso que aconteceu pelas dores que senti, que pareciam pequenas mordidas.

Adeus

Ouviu, chorou e discutiu. Saiu.
A roupa em cima do piano
-Adeus.

28/10/2008

Máquina de Escrever


A máquina de escrever cheira a literatura, carregada de significado com suas teclas gastas, mas sempre recentes, esperando para serem expostas num magnífico romance ou suspense. O barulho das teclas soa como a poesia, e retumba até o teto deste quarto sujo, fazendo zig-zagues e despertando do sono cada neurônio jovem e curioso; cada neurônio idoso, que se esforça para relembrar antigos tempos.
As suas teclas formam as palavras. Todas elas estão ali. Me convidam a escrever, relatar e dizer-lhes tudo, dando ao final de cada linha, um belo e sonoro 'plim!' aprovando minhas idéias tolas, ou apenas negando-as, sendo educada e cordial, não querendo discordar de mim; que bela dama. As letras batem com força no papel -fap, fap, fap-, que gira, contorna, vai e vem, num ritmo quase erótico; a linha entre o prazer de escrever e o amor à leitura.
Agora, saturada das metáforas, cospe as folhas de papel, e se recusa a escrever outra vez. Não quer me servir, fria e cruel senhora das letras; já cansada. Ignora as palavras que meus dedos gotejam, fazendo delas todas apagadas e disformes, desalinhadas e sobrepostas. Me nega sua fita de tinta e suja todos os meus dedos em evidente objeção.

26/10/2008

Porta Calada

A porta fechada
calor acrescido
Batem na porta
calor contido

O farol se fecha
ninguém se abre
tudo nas ruas
parece vaidade

Olhares lacrados
tudo é indevido
não fale nada

17/10/2008

Sobre Ela e Eu

E numa mordida, arrancar tua roupa toda. Tua orelha dança quando ouve minhas leves sílabas tônicas, que são derramadas ao pé de seu ouvido, com esplêndida devoção. Não sabemos mais onde estamos, e o nosso nome já não faz mais sentido. Só ouço beijos, estalos incertos, que parecem gotas ecoando em becos escuros e cheios de solidão. Somos só beijos e contamos segredos do corpo. Segredos que a cidade inteira inveja.
Uma inconseqüência adolescente me toma quando vejo essa pele rósea e macia, com o cheiro singular que não é do perfume. A pele exala os teus desejos, sendo eles os mesmos que os meus, e esses cheiros se cruzam no ar, justamente acima, abaixo e no meio de nós dois, e qualquer um pode perceber esse fenômeno, mesmo que se estivermos a metros de distância.
Porque e para que tantos obstáculos? Porque não entendem que é ainda tentação maior privar-me de ver-te ou falar-te?
Oh, saiba que minhas saudades vão muito além das dezenove horas, meus desejos além das vinte e duas, e meus sentimentos penetram a meia-noite, transbordando às dez horas da manhã.

09/10/2008

Os Olhos Antes de Dormir.

Os olhos cansados não querem se fechar; têm preconceitos e medos perante o amanhã, que é certo e incerto. Preconceitos aos dias iguais, que são sacrificados em função de um sistema de sociedade. Incerteza certa pelo amanhã que mais parece um jogo de dados e costas quentes!
Vejam só, sacrificamo-nos para não sentir, para se encaixar. Até o mais singular não está livre da baioneta que fura os intestinos de quem tenta se elevar perante à um rebanho que se sujeita somente à chicotadas!
Mas já conhecem todas essas palavras, que até para mim se tornam nauseantes. Paremos por aqui, e falemos de... futebol.

04/10/2008

Metáforas, metáforas e metáforas. Me cansam.

Certa vez fui comparado a um leve lençol ao vento, por uma pessoa queridíssima. Me chamou tal pela minha sensibilidade ao sentir e ao expressar emoções. Tomei a liberdade de analisar essa rica e fenomenal comparação, e acabei chegando à alguns resultados.
O lençol não tem forma, se molda ao dispor da movimentação de vento, é branco e puro se recentemente lavado e se molhado, escorre e evapora com o calor até secar. Sinceramente, não me vi em nenhum dessas características metafóricas. Eu tenho forma fixa de sentir, e quando exposto à ventos (seriam esses influências), explodo em sentimentos para a autoconfirmação de minha própria pessoa. Não me moldo ou calo diante de situação indevida! Aliás, considero tal coisa -repressão- como ato tolo, infeliz e auto-destrutivo. Se molhado, encharcado por lágrimas, eu me escondo na noite de meu quarto, e tento falar com você, pequena, para tentar me secar. O sol me faz mal e aborrece, mas a lua me desperta paixão.
Vejo que de lençol ao vento eu não tenho nada! Sentir é para os fortes, os corajosos e os desocupados... Me encaixo nessas três caracteristicas, e sinto agora, como se tivesse contido dentro de meu pulmão a honra de poder sentir, explodir, ansiar e temer, mas mesmo assim, ser forte. E não forte por resistir, mas por sentir e mostrar.

Árvores, Quintais e Problemas.

É impressionante pegarmos uma pequena semente, plantar, regar, e vê-la crescer, até se metamorfosear em uma árvore com o triplo do nosso tamanho.
Acho que não só as sementes são assim mas muitas situações na nossa vida também. Começam pequenas e então se tornam maiores que a gente, nos conduzindo. Isso acontece com problemas também... eles crescem, se tornam árvores grandes com raízes que perfuram nosso solo, destruindo nossa superfície. Impedem os sorrisos e o proveito dos bons momentos.
Pior quando essa semente de problema não é nem nossa, mas afeta incrivelmente o nosso solo, sugando nossos minerais por estar muito perto; a intimidade.
Você empresta seu machado ao vizinho, o ensina a cortar essa árvore maligna e escura, mas nada será feito até que ele queira.
Descobri que não podemos simplesmente querer resolver os problemas dos outros. Mexer na merda do outro é uma coisa muito complicada. E eu já não sei mais o que fazer, pois essa árvore está tomando proporções colossais, já causando estragos em minha propriedade, e meu vizinho tem medo de machucar a mão ao tentar cortá-la.
E eu, nada posso fazer... Como sabem vocês, o 'quintal' do vizinho é um terreno desconhecido, escorregadio e perigoso. E ainda podemos tomar chumbo ao tentar adentrar.

Se envolver no problema dos outros é uma imensa droga corrosiva. Temos que ver os problemas como espectadores, somente. Se nos envolvemos demais, pode ser que seria equivalente à "regar a árvore".

30/09/2008

Está Servido

Que é a xícara sem o café;
A vida sem extravagâncias?
Que são dias sempre iguais;
Ser adulto sem lembranças?

Que é a toalha sem migalhas;
A convivência sem nenhum dano?
Que é uma estátua sempre bela
sem história, poeira e riscos?

Que é o corpo esbelto do homem
sem a sempre presente morte?
É uma casca vazia, dura e fina
que se esvai no primeiro corte

Prosa 3/4

"Teus cabelos, que um dia foram agarrados à minha pele, em meio ao trigo e ao suor, em noites confidentes, sentem saudades; gritam o seu pranto, mas não lhes ouve, e joga-os contra o vento, como se castigasse-os por tais lembranças.
Teu seio quer repousar minha cabeça, e, como uma prisão paradisíaca, nunca mais deixar-me partir para as reais e avermelhadas batalhas dos homens. Me darão um sono tranqüilo, eu aposto. Não terei que montar guarda alguma contra teus suspiros.
Teus pés; magníficos pés, que andam pelo campo, faíscam por toda à noite, em busca da lenta Valsa, onde lhe segurei mais firme que qualquer homem jamais ousou. O compasso que embalou olhos cheios de palavras, agora se sente vazio e incompleto.
Teus dedos, armados com unhas compridas, querem percorrer minhas costas, caminhando com força, celebrando seu triunfo sobre meu ser. Vestidas de vermelho, correndo até meu quadril, levemente. Impetuosas unhas invocando um inocente ataque.
Tuas costas imploram para que eu desarme-as em meio ao campo de batalha, e faça que milhares de carícias as execute de êxtase e fervor. Minha barba mal feita e cabelos desgrenhados lhe farão cócegas; Liça justa.
Tuas pernas cansadas procuram como parreiras algo para se entrelaçar em meio à noite fria e prateada. Egoístas e imponentes, como princesas em dosséis. Emaranhadas, desfrutam de lençóis de seda para seu solene repouso. Sozinhas e quietas procuram às minhas, não querendo transparecer tal desejo; Orgulhosas pernas.
Tuas mãos -mãos que colhem flores- querem conferir, alisar e apalpar toda a extensão do meu corpo, amaciar meus músculos exaustos com sua leveza singular, e apagar minhas cicatrizes com leves caricias, como se ainda me doesse, como se fossem um corte em meu íntimo."

Garota Mulher Menina

Garota dos tropeços
dos sonhos e sorrisos
Menina dos começos;
Dos gestos concisos

Mulher voraz no escuro
astuta na arte da provocação
recua ao sinal de perigo
não se entrega à perdição

Garotinha de brincadeiras
seja subir em árvore ou pião
não quer perder a intimidade
com a essência de sua criação

Amiga de tardes inteiras
do não fazer nada; Do viver
no Sábado ou Segunda-Feira
de manhãzinha ao escurecer...

Ladrão de Diamantes

Sapatos fulgentes
Apunhalado pela sorte
Arrastado pelo jardim
Um rastro cor-de-morte

Pés e mãos atadas
Sem terno e sapato
O corpo dentro d’um saco
Foi jogado do penhasco

O saco nas ondas bateu
O guarda a gargalhar
Voltou para seu cômodo
E terminou o jantar.

24/03/08

29/09/2008

A Pinta

O Pitta foi Preso!
Preso o Pitta!? Acredita?
O caralho que eu acredito
Pitta preso é piada!

O Pitta roubou e foi preso
Pegou nossa grana; O Pitta
E com nossa grana saiu da cadeia!
Acredita!?

O Pitta é uma porra!
Uma mancha escura no Brasil!
É praticamente uma pinta!
Cisco Pitta!!

Esse Pitta é uma porra!
Roubou minha grana; O Pitta!
O Pitta é pestilento, pauzudo que não é!
É um Filho da Pitta
Essa puta de merda!

Sem título!

"-É o homem envenenado pelos males do não conseguir; os males da inerência; a incapacidade, que cutucam suas vísceras dia à dia, como em certo mito.
O homem que comete atrocidades é o mesmo que quer detê-las, o que profana absurdos é o mesmo que os ouviu.
Homem espelho do homem; Mostra teu rosto, saturado do não ser! Suprimido, refugiado, esmago pelas circunstâncias.

-É claro, homem! Já dizia eu nos tempos da rebeldia: Não há crime maior e mais brutal do que a não verbalização de pensamentos! Hahaha!!!! Vossas circunstâncias só serão conseqüências destes... ou apenas sorte!

-Sorte? Não sejas ridículo. A sorte só acaricia aos lábios rosados do belo rapaz de olhos sonhadores! E depois o dilacera, e ri de escárnio, como em certa obra de algum romântico infeliz!

-Românticos? Que tem eles de tão ruim? Apenas tiveram o azar de se dar conta da imensidão do próprio sentir... E que é o sentir se não for o próprio ser?

-Aah!! Lá vens com tua filosofia de novo! Me chateias; Chateamos essas moscas com a filosofia!
A filosofia é a ferramenta perfeita para a chateação de pessoas! Calemo-nos com nossa filosofia miserável... Falemos de coisas mais importantes; Falemos dos boatos, dos tipos de fumo, vinhos e cachimbos que chegaram ao mercado, e aí sim será um bom momento!
Meu conviva, não sabes que a filosofia é o assunto mais indevido à uma reunião de amigos?

-Pois sei, meu caro. A filosofia nos faz infeliz.

-Veja só! Todos já dormem; nossos convivas pareciam geniais, até o álcool os agarrar em beijos molhados. Agora parecem apenas defuntos vítimas de filosofia. Se tornaram desagradáveis quando a embriaguez mostrou quem realmente eram. E que pessoa não é desagradável no intimo? De perto vemos vários riscos da estátua que parecia perfeitamente bela ao longe.

-Bem, me parece então que... vamos à merda com nossa filosofia!"

(...)

Formalidades...

Todos conhecem as formalidades. Prometo ser rápido.

Acabo de fazer esse 'blog' por, primeiramente, não ter nada para me distrair. Mas é claro que existem outros motivos (que não são tão ridículos) que me trazem aqui: Fui vítima da mania de escrever. Poemas, histórias, crônicas, relatos, ensaios, baboseiras, etc.
Penso que aqui seja um bom espaço para organizar melhor essa mania benéfica primeiramente para mim mesmo. Pois como sabem os que escrevem, tocam, atuam ou pintam:
Tudo começa primeiramente por um impulso interior; uma ânsia inegável que nos faz expressar o que sentimos ou vemos... A primeiro momento fazemos nossa arte para própria satisfação, como uma válvula de escape. Eis que depois ela é exposta e ficamos ansiosos pela reação que causará em outras pessoas, e a crítica que receberemos delas. Adoro esse processo.

Creio que seja o ato 'egoísta' mais belo; a arte.