25/08/2009

Eu Cheirava Lembranças na Gola da Camisa

Não eram lembranças vulgares ou mundanas, como um pedaço de suas costas ou seus pezinhos brancos; Não. Era algo nobre e bonito, daquelas coisas que fazem o peito estalar e se apertar todo: Eu não farejava somente uma pessoa ou um corpo ali naquela gola; Eu cheirava uma época inteira! Cada vez que meu nariz se inflava para apurar o aroma sutil, os olhos fechavam-se num movimento de reverência. Reverência e uma pitada de saudades e amadurecimento.
Então farejei sons, momentos, conversas, palavras de amor e olhares. Era eu um garimpeiro da própria lembrança. Garimpeiro simplório e sensível, que narrava com orgulho a glória de seus primeiros e reais achados: Belos diamantes, rubis e alexandritas. Verdadeiros frutos de uma época extraordinária da minha vida, onde me sentia completo e encontrado. Respirava o mais puro romance, de fato que diferente dos romances literários, pois era real e um tanto mais despretensioso.

20/08/2009

Sobre o Ligeiro Garoto Embaraçador de Vidas

Ah! Maldito carrasco dos andares sem destino! Ah! Intrometido! Que fazes você, senão balançar minha vida, derrubando todos os meus enfeites e condecorações, tão bem escolhidos, estrategicamente posicionados?
Os ornamentos da minha vida, todos bagunçados e fora de lugar! Balança e balança outra vez! Meu tolo universo, recém formado, parece então não existir e fica tudo atirado ao chão, cabendo a mim, e somente a mim, já fatigado, colocar tudo no lugar.
Que é você, espertalhão, senão uma criança desordeira e malvada?! Sim, uma criança malvada e manhosa, que vem e me espeta um palito no coração quando aborrecida. Não farei o que quer, percebes? Não farei, sou livre.
Ria, ria mesmo, ardiloso moleque, pois não preciso mais de teus palpites e planos mirabolantes. Vou seguir. Sozinho. Além do mais, pensas que é senhor de algo aqui na terra! É mesmo um cínico. Nunca lhe fora dedicado um romance, um épico, nem ao menos, um livrinho de poesia. Não passas de um irônico marginal.
E que os ingênuos me perguntem:
-Ó, como pode ser assim de tudo má uma criança, que é fresca na vida? Exageras meu caro!”
E então responderia, com cordial benevolência, uma pitada de desgosto e brilho nos olhos; talvez um meandro de lágrimas:
-Meus caros tolos, não sabeis o nome deste brejeiro mal-criado que chamamos, educadamente, de Acaso.