25/04/2011

Alfarrábio de João

Rita ri ronronando e ronca; rancorosa
Carla cospe no caminho e cora; copiosa
Flávia fuça nas falas e tira fotos; fatídica
Aline alisa demais o lar; lunática
Sandra sorri sem sal e samba mal; sorrateira
Valéria vê vultos e ouve vozes; violenta
Juliana jura e não faz jus; jogadora

E eu, João, vou ficando sem alfabeto.

15/04/2011

Mártir Pescador

Sob o sol com a velha rede remendada, o barco e de companhia os cupins. Chapéu de palha estourado na cuca e velhas marcas no rosto como se cristalizadas, talvez por lágrima ou talvez por mar; Essa diferença é muito sutil e quase inexistente para um pescador.

Desde menino crescido sozinho feito siri na beira d’água, as mãozinhas salgadas e o único acalanto vinha do sol que ardia no lombo. Vivia do mar... e o mar? O mar não vivia dele. Gigante e impassível permanecia. Foi essa sua primeira desilusão amorosa, antes da moça que usava vestido de flor e pano bonito nos cabelos.

É certo que confundia amor com dependência; com essa coisa que parece fome mal matada e sono mal dormido. Amor era isso: era bestial, primitivo e arrancava pedaços – como ele fazia com o mar, arrancando seus frutos e logo mais se sentia castigado quando, quase morto de fome, voltava com a rede vazia.

O triste pescador em cima do seu barquinho percebeu o erro fatal só muito velho, bem gasto pelo mar e já rachado pela maresia: Não havia vítima nem algoz; Era só amor e ponto.
A madeira estalava com o balanço das águas. Pela primeira vez pode perceber a diferença entre lágrima e mar; então num téc forte o coração estalou
também.


11/04/2011

Dez Minutos


Eu já tô chegando, menina! Na verdade eu sempre estive. Essa chuva fininha e eu enfiado nesse couro – trago dessa vez todos os meus remédios no bolso: Gastrite, garganta, olho, cabeça, febre; Estou completo dessa vez, remediado. Nada atrapalha.

Cinco minutos e eu já tô aí. Piso numa poça d’água e sempre me sinto o cara mais infeliz do mundo quando o pé começa a molhar devagarzinho com a água que penetra pelo tênis. Uma meia molhada e eu já me sinto meio livre.

Aquele barulho de pisada molhada e eu nem sei quantas poças eu já pisei – e tantas outras que pulei – pra chegar até esses olhos e braços quentinhos. Não me importa; são só dois minutos!

Eu de pé no seu portão chamando de um jeito engraçado, o barulho das chaves e a porta sempre se abre junto com um sorriso. O tempo não existe agora – ou não deveria.
Chegamos.