28/06/2015

Donos de Pixels

Escrever num mundo onde um sentimento não vale mais que 140 caracteres, onde você é uma aba no meio de infinitas outras abas. Tudo já foi exposto, tudo já foi dito, tudo já foi mostrado e explicado com qualidade HD, tudo já está na Wikipedia, tudo. 

Porra. Como é difícil escrever aqui - como é doloroso saber que realmente estamos sozinhos - uns com outros, em rede, mas terrivelmente sozinhos. 

Tem o cara que compra uma máquina de escrever; tem o cara que escreve de caneta no caderno - atos de desespero, nada mais que isso. Tentamos - eu confesso que também tento - voltar a um lugar, a um tempo onde nada era assim tão solúvel e rápido. Nada de fibra ótica, de megas de velocidade. Uma esfera de vida onde existia novidade, onde tudo era bruto, puro e causava espanto. 

Até falar sobre a rapidez e plasticidade da vida – como faço aqui, agora - já se tornou um clichê irreparável, chato e conservador. Nos restará alguma poesia senão a poesia de um museu de cera?

Vocês aqui deste grupo-escrevedor, donos destes bytes, caracteres, perfis, sites e pixels: Vocês são todos lunáticos!

e isso é lindo.

22/06/2015

Porvires

medo de acordar com uma meia só no pé
medo de esquecer o guarda chuva
medo de não ter papel higiênico
medo de perder o ônibus
medo de estar tão corajoso - pela primeira vez

medo de pensar tanto e saber e ver e concluir,
mas não saber o que fazer então

medo da pedrada inevitável, do dia inevitável;
(a chamada da enfermeira para a injeção quando eu era pequeno)
medo da minha vez; do dia que sempre chega pra todos
e que todo mundo sabe o que esse dia é, pois todos já pensaram nele antes de dormir.

viver na inevitável sensação de porvir
do que vai acontecer - ou do que não vai
e assim paramos pra olhar, paralisados
e então se passam 100 anos
e tudo aconteceu,

------------------------------------------------------------------------------------

mas nem estávamos lá.

17/06/2015

Bandeja das Verdades

com a bandeja das verdades em mãos - as verdades de tudo que eu sou e mais (e ainda pior): tudo aquilo que eu não fui - eu vou descendo ruas muito estreitas e muitas

subo escadas mal acabadas de degraus desiguais. Vou tentando não derrubar nada pelo caminho, como tanta coisa que já deixei
ao chão

Agarro-me às verdades; as duras verdades ditas e dadas levemente, como fossem lindas crianças - carregando fuzis.
Agarro-me, como todos os outros do mundo todo, às verdades - e quando me dou conta, quando já percorri tudo que era caminho,
quando já cheguei, esfarrapado, ao mar, me dou por perdido.

olho para as mãos e vejo - para o espanto de quem carregava bela bandeja - entre os dedos e escorrendo manga adentro,

um belo punhado de lama.